"E tomei o livrinho da mão do anjo, e comi-o; e na minha boca era doce como mel; e, havendo-o comido, o meu ventre ficou amargo."
Apocalipse 10. 10
Sempre que deparo com esse texto fico deslumbrado com a sabedoria divina. Como ela nos guia nas mais singelas veredas e por meio dos mais duros paradoxos. A mensagem neotestamentária é repleta de propostas desconcertantes para a lógica humana. Não é inerente ao nosso raciocínio pragmático "amar os nossos inimigos", ou "oferecer a outra face", esta atitude de amor é sempre motivada pela ação transformadora do Espírito Santo na vida do cristão verdadeiro.
Como compreender que algo possa ser doce e amargo ao mesmo tempo? Do que estamos falando aqui, ou melhor, do que trata o texto bíblico em epígrafe? O "livrinho" não é senão a pequena e grandiosa revelação de Deus para a humanidade, a coleção de textos que a Igreja, ao longo dos séculos, preservou em reconhecimento da inegável inspiração divina destes escritos. Da compreensão das Sagradas Escrituras depende a constatação de que a mesma Palavra que nos garante salvação pode se desdobrar em condenação. Daí o duplo aspecto da revelação divina, repleta de bençãos, mas permeada de maldições. Não há nenhuma contradição, não em Deus. Deus é perfeito e perfeitamente santo, por isso ele ama o pecador, mas aborrece o pecado.
Vale lembrar que não há condenação para os que estão em Cristo Jesus (Rm 8.1).
Aqueles que se lançam no desafio de prescrutar os tesouros da sabedoria divina descobrem que alimentar-se da Palavra de Deus é algo deliciosamente prazeroso, no entanto, requer-se do estudioso da Bíblia que ele esteja preparado para uma congestão. Isso mesmo, leitor! Não precisaria repetir se a advertência não fosse necessária: Quem come do livro sagrado não deve se contentar apenas com a sua doçura, mas tem que estar preparado para alguma indisposição estomacal. Precisamos aprender a digerir os profundos ensinamentos bíblicos, amadurecendo na fé, crescendo em espírito para substituirmos, aos poucos, o leite brando pelo mantimento mais sólido (cf. Hb 5.12,13).
No Antigo Testamento temos o profeta Ezequiel que assim como o Apóstolo João come um livro "doce como o mel", a diferença é que no caso da narrativa do Novo Testamento seguem-se, imediatamente, outras revelações acerca do fim, já o profeta veterotestamentário, tão logo termina de comer, vai iniciar o seu ministério. Ele precisava "comer" para que pudesse "vomitar" as palavras que o Senhor lhe dera (Ez 3.1-4). "Comer" na concepção exegética de ambos os textos se encerra no sentido de assimilar, transformar algo externo a si mesmo em algo que passa a constituir nossa própria essência. Quando nos alimentamos da Palavra, ela passa a fazer parte de nós.
Assim como a Palavra pode ser tão doce como amarga, da mesma forma é a nossa vida. Nascemos sem nenhuma garantia de prazer incessante ou privação de qualquer tipo de dor, pelo contrário, já nascemos em meio a muita dor. A mãe sofre dores indescritíveis e o bebê, um desconforto desconhecido e inimaginável. À medida que crescemos as dores se agravam. Passamos por perdas irreparáveis, mágoas profundas e tristezas inconsoláveis. Tudo isso pela herança pecaminosa cuja a nossa humanidade ainda está fadada. Como é amarga a morte, mas como é doce a vida! Sabemos que a morte será tragada na vitória (1 Co 15.54,55) e que as angústias do tempo presente não servem para comparar com a glória futura que haveremos de experimentar (Rm 8.18).
Nossa confiança deve estar sempre depositada em nosso Deus. Ele não nos decepciona, mesmo que, às vezes, fiquemos confusos quanto a nossa relação com seus soberanos preceitos. Estamos convictos que ele sempre fará o melhor pelos seus eleitos.
"Oh quão doces são as tuas palavras ao meu paladar, mais doces que o mel à minha boca"
Salmo 119.103
Pela Graça e Conhecimento de Nosso Senhor Jesus
Leonardo Leite
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