A desilusão com as instituições é tamanha que não para de crescer o número de crentes que podem ser chamados de "desigrejados". Esta é muito mais uma consequência do abandono espiritual que estas instituições acabam cometendo que propriamente por um movimento organizado, pós-moderno e secularizante que muitos possam identificar como atuante em nossos tempos. O fato é que tal abandono ocorre quando os membros das instituições religiosas passam a dedicar-se mais à própria instituição, com suas justas demandas administrativas e organizacionais, que com o Corpo de Cristo presente nestas instituições, mas cada vez mais apartado de sua vocação primeva que é o chamado do Evangelho. Chamado este que nos impõe um serviço e não esta relação de consumo como a que vemos nos grandes e pequenos templos. Nos pequenos, nem vemos tanto. A membresia é mais participativa, mais atuante, o púlpito não foi, ainda, privatizado por uma elite sacerdotal que se percebe em entidades mais vultosas.
Sinto-me, hoje, no limbo que surge entre os que defendem um movimento evangélico anárquico e aqueles que dependem da igreja enquanto instituição. Sinto-me abandonado pelos meus pares, por outro lado, sinto que os abandonei também, pois o convívio, enquanto regra, não satisfaz e a distância, enquanto exceção, não provoca qualquer mobilização, de qualquer lado. Penso que o erro está em admitir-se importante para um grupo que já encontrou substitutos para a pequena lacuna que ficou com a ausência. O sistema se alimenta da dedicação individual e depois trata de suprir as falhas com a atividade de outros, não se para pra pensar, não se busca os desgarrados, apenas preenche-se a agenda com mais compromissos, eventos e trabalhos. Um dos principais sintomas deste institucionalismo religioso é, sem dúvida, a profissionalização dos ministérios eclesiásticos. E não critico, aqui, a necessidade de se cumprir um expediente, a presença de vínculos empregatícios, salários e benefícios previstos na Lei. A minha crítica recai sobre o caráter essencial destas relações que perderam o lastro da espiritualidade, da justiça e do amor.
Acredito que a igreja deve passar por um novo ciclo de avivamento. Um que restaure as relações pessoais, que reintegre as pessoas ao Corpo, incentivando o exercício da vocação cristã de cada um e não, necessariamente, pelo ingresso em uma carreira eclesiástica.
2 comentários:
Muito bom!
Obrigado, Ivens. Te convido a ler outros se o tem te instigar.
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