Em época de festas natalinas, o cenário é bem conhecido: percebe-se, com o aquecimento do consumo, o arrefecimento das relações humanas que sucumbem à agenda extraordinária da programação de fim de ano. Surge, neste período, uma ansiedade social que voltada para si mesma impulsiona uma busca urgente por uma remissão instantânea, como se presentes e reuniões festivas servissem de indulgência para todas as injustiças, mágoas e desprezos praticados ao longo do ano. Acompanhando este sentimento, esta demanda, nem sempre autêntica, por restauração destas relações, já há muito fragmentadas, vem as famigeradas resoluções de Dezembro que propõem mudanças para o ano vindouro, inauguram-se projetos e estipulam-se metas a serem, quase sempre, desviadas e negligenciadas para que ao fim do próximo ano reinicie-se um novo ciclo de consumo e remorso.
Jesus nos chama a uma experiência profunda de arrependimento e remissão duradouros. Ele nos convida a um tipo de inconformidade com o mundo e com suas ilusões que nos obriga à reflexão e, não só isso, mas, também, a uma posição diante de toda esta agenda. A remissão é contínua, cotidiana e não sazonal e extraordinária como se vê nesta época do ano. Os evangelhos estão repletos de exemplos simples de encontros ocasionais e sem qualquer importância aparente mas que Jesus torna-os extraordinários. Momentos banais e personagens simplórios ensejam uma história viva de verdadeira mudança com uma perspectiva que não se resume às circunstâncias, às estações ou períodos específicos do ano, mas que se renova dia após dia, com as experiências e aprendizados a partir da relação com o Redentor.
Minha oração é que todos os leitores do blog tenham um verdadeiro encontro com Cristo e que passem incólumes às demandas das festas natalinas e que possamos extravasar para o mundo o amor genuinamente cristão. Esta é uma época repleta de simbolismos e a maioria das pessoas estão suscetíveis à mensagem de paz do Evangelho, uma mensagem que, de fato, preencha o vazio que apenas Deus pode preencher.
Há lugar para os pensadores cristãos atualmente? Por que se faz necessário o pensar? Não seria a fé a única faculdade capaz de conduzir o homem à salvação? Acredito que a filosofia e o pensamento humano devam ser exercitados para que não venhamos a ser adeptos de uma fé cega. Nosso fundamento está em Cristo e nas Escrituras. "Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo." 1º Coríntios 2:16
domingo, 6 de dezembro de 2015
domingo, 8 de novembro de 2015
Teologia da resistência
Em dias nos quais testemunhamos uma infindável profusão de seitas dentro do tronco protestante, em sua maioria classificáveis como pertencentes ao famigerado movimento neopentecostal, é imperativa uma teologia que se posicione como ato de resistência diante da flexibilização e até da extinção dos valores cristãos fundados nos princípios bíblicos. Não é privilégio exclusivo destas seitas, com ênfase na falsa teologia da prosperidade e na confissão da fé positiva, o avanço contumaz sobre estes princípios, até mesmo as igrejas históricas e tradicionais vem sendo invadidas pelo universalismo salvacionista e pelo teísmo aberto, desta forma, não há espaço para o conforto denominacional que se apoie na credibilidade de uma razão social ou de uma liderança reconhecida por sua destreza bíblica e doutrinal.
Todos os cristão precisam cavar poços em busca de águas profundas. A teologia é ferramenta para este trabalho, e, também, para o de cavar trincheiras. É necessário resistir a estes e outros "ventos de doutrina" que sopram para alvos distintos daqueles que tem o Mestre como objetivo. Seguir a Jesus de Nazaré é o único caminho, não há outra verdade, não há outra vida. Esta jornada nos trará para perto do projeto divino, renovará nossas esperanças e forças para combater o bom combate. Não podemos perder de vista a nossa vocação cristã que não é, apenas, de ficarmos confinados e entrincheirados em nossos muros institucionais, protegidos por nossa pretensiosa ortodoxia, somos chamados para anunciarmos o Reino, para propagar o Evangelho, este, também, é um ato de resistência.
Não estamos aqui para transformar o mundo em um paraíso na terra. Estamos aqui para fazer a diferença sendo diferentes, auxiliando as pessoas a ter um encontro com Cristo, encontro que buscamos todos os dias, até que Ele venha. Ele é a pedra que na visão de Daniel esmiuçará o monumento da impiedade do governo humano, não cabe aos cristãos estatuir, nesta dispensação, o governo de paz e justiça que Jesus inaugurará com a Igreja em sua segunda vinda, cabe-nos, apenas, anunciá-lo e criar o ambiente necessário para experimentá-lo em vislumbre, como o reflexo imperfeito de um espelho de bronze, até que conheçamos o Rei, da forma que somos conhecidos.
Todos os cristão precisam cavar poços em busca de águas profundas. A teologia é ferramenta para este trabalho, e, também, para o de cavar trincheiras. É necessário resistir a estes e outros "ventos de doutrina" que sopram para alvos distintos daqueles que tem o Mestre como objetivo. Seguir a Jesus de Nazaré é o único caminho, não há outra verdade, não há outra vida. Esta jornada nos trará para perto do projeto divino, renovará nossas esperanças e forças para combater o bom combate. Não podemos perder de vista a nossa vocação cristã que não é, apenas, de ficarmos confinados e entrincheirados em nossos muros institucionais, protegidos por nossa pretensiosa ortodoxia, somos chamados para anunciarmos o Reino, para propagar o Evangelho, este, também, é um ato de resistência.
Não estamos aqui para transformar o mundo em um paraíso na terra. Estamos aqui para fazer a diferença sendo diferentes, auxiliando as pessoas a ter um encontro com Cristo, encontro que buscamos todos os dias, até que Ele venha. Ele é a pedra que na visão de Daniel esmiuçará o monumento da impiedade do governo humano, não cabe aos cristãos estatuir, nesta dispensação, o governo de paz e justiça que Jesus inaugurará com a Igreja em sua segunda vinda, cabe-nos, apenas, anunciá-lo e criar o ambiente necessário para experimentá-lo em vislumbre, como o reflexo imperfeito de um espelho de bronze, até que conheçamos o Rei, da forma que somos conhecidos.
sexta-feira, 6 de novembro de 2015
A solidão vocacional
"Não fomos feitos para ficarmos sós"
De toda a criação, Deus reconheceu que apenas uma coisa não era boa: que o homem vivesse só. O ser humano é inescapavelmente um ser social e, por isso, toda exceção traz uma marca de sofrimento, inclusive naqueles que, voluntariamente, resolveram afastar-se do convívio em sociedade. Até mesmo estes, talvez, estivessem mais cansados do estilo de vida urbano e das relações sociais repletas de falsidade e interesses mesquinhos, daí uma fuga, até certo ponto, compreensível. É bem verdade que todos temos aspectos da vida em que precisamos experimentar a solidão. Jesus viveu esta solidão de maneira atroz, na cruz - "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?".
É preciso coragem, integridade e perseverança para atravessarmos os desertos da vida. Eles são necessários para o nosso amadurecimento, para o nosso crescimento espiritual. A solidão é um deserto. Por vezes desejamos apoio, aprovação, reconhecimento, afetos....é natural e não há nada de errado em ter tais necessidades. O convívio familiar, social e na comunidade religiosa deve prover esta necessidade. É um tremendo engano ou pura arrogância, defender que não precisamos do outro e que a decepção não seja uma verdade que pode deixar marcas profundas. Dizer simplesmente "seja você o exemplo do que você deseja pra si" ou ainda: "espelhe-se em Jesus Cristo e não nos outros que são pecadores" parece um lugar comum de fácil sugestão para eximir a nossa responsabilidade de cuidar do outro.
Mais uma vez preciso atacar o institucionalismo religioso. A agenda da instituição, por vezes, é tão sufocante que não permite a relação saudável entre as pessoas. Chamo de "relação saudável" aquele cuidado que podemos ter e que seja recíproco e não apenas uma espécie de balcão de atendimento religioso. O serviço cristão não pode ser profissional, no sentido formal, sob pena de criar um funcionalismo árido focado na atividade programática e não na necessidade das pessoas. É impossível vivermos sem a instituição, mas é imprescindível vencer seus muros, investir nas pessoas enquanto seres com necessidades de afeto e amparo espiritual e não, apenas, como clientes habituais.
Este é o cenário da nossa solidão vocacional. Somos chamados para sermos discípulos de Jesus Cristo, exercendo nossos ministérios, frutificando dons e cuidando dos outros, na parcimônia de quem, às vezes, não é cuidado. Passamos pelo deserto para aprendermos a depender totalmente de Deus. O ambiente é hostil, seco, praticamente sem vida, estamos sozinhos, não há em quem nos apoiarmos, mas é, exatamente, neste silêncio, onde somos provados, somos tentados a abandonar tudo pelo qual somos chamados, assim como nos sentimos abandonados, queremos abandonar, mas é aí onde podemos ouvir a voz de Deus que nos ampara amavelmente: "não temas! Eu sou contigo!".
Acredite, meu irmão, esta solidão vai acabar. Se não acabou ainda é por que resta lições para aprender. Sacrifique tua necessidade do outro com uma dedicação totalmente devotada a Deus e àqueles que te feriram. Este é o teu chamado!
De toda a criação, Deus reconheceu que apenas uma coisa não era boa: que o homem vivesse só. O ser humano é inescapavelmente um ser social e, por isso, toda exceção traz uma marca de sofrimento, inclusive naqueles que, voluntariamente, resolveram afastar-se do convívio em sociedade. Até mesmo estes, talvez, estivessem mais cansados do estilo de vida urbano e das relações sociais repletas de falsidade e interesses mesquinhos, daí uma fuga, até certo ponto, compreensível. É bem verdade que todos temos aspectos da vida em que precisamos experimentar a solidão. Jesus viveu esta solidão de maneira atroz, na cruz - "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?".
É preciso coragem, integridade e perseverança para atravessarmos os desertos da vida. Eles são necessários para o nosso amadurecimento, para o nosso crescimento espiritual. A solidão é um deserto. Por vezes desejamos apoio, aprovação, reconhecimento, afetos....é natural e não há nada de errado em ter tais necessidades. O convívio familiar, social e na comunidade religiosa deve prover esta necessidade. É um tremendo engano ou pura arrogância, defender que não precisamos do outro e que a decepção não seja uma verdade que pode deixar marcas profundas. Dizer simplesmente "seja você o exemplo do que você deseja pra si" ou ainda: "espelhe-se em Jesus Cristo e não nos outros que são pecadores" parece um lugar comum de fácil sugestão para eximir a nossa responsabilidade de cuidar do outro.
Mais uma vez preciso atacar o institucionalismo religioso. A agenda da instituição, por vezes, é tão sufocante que não permite a relação saudável entre as pessoas. Chamo de "relação saudável" aquele cuidado que podemos ter e que seja recíproco e não apenas uma espécie de balcão de atendimento religioso. O serviço cristão não pode ser profissional, no sentido formal, sob pena de criar um funcionalismo árido focado na atividade programática e não na necessidade das pessoas. É impossível vivermos sem a instituição, mas é imprescindível vencer seus muros, investir nas pessoas enquanto seres com necessidades de afeto e amparo espiritual e não, apenas, como clientes habituais.
Este é o cenário da nossa solidão vocacional. Somos chamados para sermos discípulos de Jesus Cristo, exercendo nossos ministérios, frutificando dons e cuidando dos outros, na parcimônia de quem, às vezes, não é cuidado. Passamos pelo deserto para aprendermos a depender totalmente de Deus. O ambiente é hostil, seco, praticamente sem vida, estamos sozinhos, não há em quem nos apoiarmos, mas é, exatamente, neste silêncio, onde somos provados, somos tentados a abandonar tudo pelo qual somos chamados, assim como nos sentimos abandonados, queremos abandonar, mas é aí onde podemos ouvir a voz de Deus que nos ampara amavelmente: "não temas! Eu sou contigo!".
Acredite, meu irmão, esta solidão vai acabar. Se não acabou ainda é por que resta lições para aprender. Sacrifique tua necessidade do outro com uma dedicação totalmente devotada a Deus e àqueles que te feriram. Este é o teu chamado!
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
Quais os limites da teologia?
A teologia, enquanto ramo do conhecimento humano, é aquela que se propõe a delinear o amplo campo de significados acerca de Deus e de sua relação com o homem e o mundo. A relação primeira nasce com o ato divino da criação. Um Deus criador é o primeiro e mais fundamental aspecto a ser abordado pela teologia. A partir desta relação com a criação ocorrem todos os desdobramentos, com a reunião de diversos enunciados doutrinários que suportem as possíveis abordagens teológicas como tentativas humanas de descrever características deste ser Criador.
Quais são os limites desta teologia?
Os limites são estabelecidos pelo próprio Deus. Aprouve somente a ele se revelar. Desta forma, só podemos saber de Deus aquilo que Ele mesmo decidiu revelar, considerando, também, as limitações humanas da compreensão de um ser que transcende nossa própria realidade. Assim, é a mente humana que busca delinear este campo impossível, este misterium tremendum, este ser que, segundo Karl Barth, é 'totalmente outro'. Mas a teologia não subsiste sem um fundamento, sem um alicerce sobre o qual se constroi o edifício do conhecimento acerca de Deus. Este fundamento é a sua própria revelação: nas Escrituras Sagradas e na pessoa de Jesus Cristo. É bem verdade que Ele se nos revela,também, na natureza de tudo que foi criado (Rm 1: 20), inclusive no homem, sua imagem e semelhança.
Nesta viagem, temos muito para desbravar. A Bíblia é o nosso mapa e Jesus é o Norte - é ele quem nos direciona - já podemos singrar o oceano eterno de Deus. O teólogo é, dentre outras metáforas possíveis, um navegante. No entanto, esta navegação não deve permanecer à deriva dos princípios bíblicos, não podemos viver uma aventura teológica para satisfazer devaneios criativos, por mera vaidade intelectual ou mesmo para ostentar um alegado conhecimento especial sobre a espiritualidade, prática comum dos gnósticos e mercadores da fé. Por outro lado, vejo com certa desconfiança aqueles que se aferram em dogmas por pura tradição e não submetem suas crenças ao constante confronto com as Escrituras, evocando as lições declaradas na Palavra de Deus para este século.
O apreço à ortodoxia não deve, com isso, sufocar o frescor do pensamento criativo e da diversidade de dons, mas deve nos direcionar como bons despenseiros da multiforme graça de Deus já não inclinados conforme a concupiscência dos homens, mas segundo a vontade de Deus (1Pe 4: 1-10). Assim crescemos na graça e no conhecimento de Deus, como defensores da sã doutrina que não se deixam levar por ventos estranhos, modismos e subterfúgios de entretenimento religioso, transformando a verdade em injustiça, tornando mais "palatável" a mensagem bíblica que, por vezes, é dura, dolorosa e inconveniente como deve ser para corrigir e resgatar a mente humana do engano e das ilusões da vida.
Teologia que não seja cristocêntrica não passa de vã filosofia.
Prof. Leonardo Leite
Quais são os limites desta teologia?
Os limites são estabelecidos pelo próprio Deus. Aprouve somente a ele se revelar. Desta forma, só podemos saber de Deus aquilo que Ele mesmo decidiu revelar, considerando, também, as limitações humanas da compreensão de um ser que transcende nossa própria realidade. Assim, é a mente humana que busca delinear este campo impossível, este misterium tremendum, este ser que, segundo Karl Barth, é 'totalmente outro'. Mas a teologia não subsiste sem um fundamento, sem um alicerce sobre o qual se constroi o edifício do conhecimento acerca de Deus. Este fundamento é a sua própria revelação: nas Escrituras Sagradas e na pessoa de Jesus Cristo. É bem verdade que Ele se nos revela,também, na natureza de tudo que foi criado (Rm 1: 20), inclusive no homem, sua imagem e semelhança.
Nesta viagem, temos muito para desbravar. A Bíblia é o nosso mapa e Jesus é o Norte - é ele quem nos direciona - já podemos singrar o oceano eterno de Deus. O teólogo é, dentre outras metáforas possíveis, um navegante. No entanto, esta navegação não deve permanecer à deriva dos princípios bíblicos, não podemos viver uma aventura teológica para satisfazer devaneios criativos, por mera vaidade intelectual ou mesmo para ostentar um alegado conhecimento especial sobre a espiritualidade, prática comum dos gnósticos e mercadores da fé. Por outro lado, vejo com certa desconfiança aqueles que se aferram em dogmas por pura tradição e não submetem suas crenças ao constante confronto com as Escrituras, evocando as lições declaradas na Palavra de Deus para este século.
O apreço à ortodoxia não deve, com isso, sufocar o frescor do pensamento criativo e da diversidade de dons, mas deve nos direcionar como bons despenseiros da multiforme graça de Deus já não inclinados conforme a concupiscência dos homens, mas segundo a vontade de Deus (1Pe 4: 1-10). Assim crescemos na graça e no conhecimento de Deus, como defensores da sã doutrina que não se deixam levar por ventos estranhos, modismos e subterfúgios de entretenimento religioso, transformando a verdade em injustiça, tornando mais "palatável" a mensagem bíblica que, por vezes, é dura, dolorosa e inconveniente como deve ser para corrigir e resgatar a mente humana do engano e das ilusões da vida.
Teologia que não seja cristocêntrica não passa de vã filosofia.
Prof. Leonardo Leite
sexta-feira, 30 de outubro de 2015
Do eclesiasticismo
Kerigma <-> Koinonia <-> Ekklesia
A sistematização acima visa tão somente esclarecer um processo que se apresenta inicialmente em uma relação causal entre os termos e, muito provavelmente, uma coexistência, ou melhor, uma subsistência interdependentemente cíclica, sem nenhuma relação hierárquica que passa a transitar em todos os sentidos possíveis, dentro desta relação. Voltaremos a tratar, mais adiante, sobre este trinômio bíblico, mais especificamente, neotestamentário, que consiste na estrutura fundamental do cristianismo sobre a qual se organiza a religião institucionalizada.
A religião é, per si, um fenômeno institucional. No entanto, ela não se restringe ao âmbito meramente institucional, tendo em vista o seu teor profundamente doutrinal e sua vocação de fé. Destarte, é possível entender a religião como a institucionalização de uma crença comum e, ao mesmo tempo, lidarmos com o problema do institucionalismo religioso.
O que vem a ser este "institucionalismo"?
Ao meu ver, trata-se do que se observa quando a instituição torna-se o fim em si mesma e não, apenas, o meio através do qual as pessoas organizam-se, reúnem-se e realizam os propósitos desta instituição. O institucionalismo religioso é o deslocamento das prioridades fundamentais, a defesa tácita ou explícita da instituição religiosa mesmo em detrimento dos princípios sobre os quais ela foi instituída.
Poderíamos passar um longo tempo discorrendo sobre as formas que este institucionalismo tem se alastrado não apenas na igreja cristã mas em todos os segmentos da sociedade, por isso vivemos em uma época de quase total descrédito das instituições por que elas se deixaram depravar por esta tendência mesquinha e covarde de encastelarem-se em suas próprias paredes arruinadas, de romperem com suas vocações fundacionais, voltando-se exclusivamente para dentro de si mesmas, implodindo seus valores primordiais.
Voltemos aos termos que foram apresentados à guisa de introdução. 'Kerigma' é a mensagem, a anunciação, a provocação de toda revolução, no contexto bíblico, esta revolução não é política, nem social, mas reflete nestas e em todas as demais relações humanas posto que é uma revolução intimista, partindo de dentro para fora, uma transformação de ordem espiritual que reflete em todos os aspectos da vida. 'Koinonia' é a comunhão, a expressão relacional da conversão provocada pelo Evangelho anunciado, o convívio dos afetos compartilhados nesta nova dimensão social. 'Ekklesia' é a assembleia, a igreja, a reunião das pessoas em torno da sua figura central: O Cristo. A Igreja é a expressão coletiva da transformação individual, análoga do seu par veterotestamentário: 'povo de Israel'.
Como o institucionalismo religioso (eclesiasticismo) imiscui-se nestes três aspectos da vida cristã?
O Kerigma é distorcido, desviado ou até esquecido para dar lugar ao encantamento do discurso institucional. Percebe-se na militância do modelo político conservador, na ênfase moral sobre os costumes e na apologia, em todas as suas formas discretas ou disfarçadas, do "negócio religioso". A Koinonia passa a ser coberta com o verniz social, as pessoas tornam-se membros ocasionais de uma espécie de clube de afins. O convívio é árido, exclusivo e, por vezes, hostil. A Ekklesia é encastelada, confundida com o lugar, o espaço e não o conjunto ou a coletividade. A bandeira denominacional vira a identidade do cristão, a agenda dos líderes estabelecidos afugenta e sufoca novas e potenciais lideranças.
Hoje, este é o maior desafio da Igreja: ser cristão apesar dela. Identificar e combater o institucionalismo, sem esmiuçar as relações, sem alimentar dissensões, sem buscar o engrandecimento patrimonial em seus aspectos materiais, mas resgatar seus valores precípuos, estimulando a participação integral das pessoas, elegendo-as como prioridade absoluta e, assim, talvez, consigamos vencer o eclesiasticismo.
A sistematização acima visa tão somente esclarecer um processo que se apresenta inicialmente em uma relação causal entre os termos e, muito provavelmente, uma coexistência, ou melhor, uma subsistência interdependentemente cíclica, sem nenhuma relação hierárquica que passa a transitar em todos os sentidos possíveis, dentro desta relação. Voltaremos a tratar, mais adiante, sobre este trinômio bíblico, mais especificamente, neotestamentário, que consiste na estrutura fundamental do cristianismo sobre a qual se organiza a religião institucionalizada.
A religião é, per si, um fenômeno institucional. No entanto, ela não se restringe ao âmbito meramente institucional, tendo em vista o seu teor profundamente doutrinal e sua vocação de fé. Destarte, é possível entender a religião como a institucionalização de uma crença comum e, ao mesmo tempo, lidarmos com o problema do institucionalismo religioso.
O que vem a ser este "institucionalismo"?
Ao meu ver, trata-se do que se observa quando a instituição torna-se o fim em si mesma e não, apenas, o meio através do qual as pessoas organizam-se, reúnem-se e realizam os propósitos desta instituição. O institucionalismo religioso é o deslocamento das prioridades fundamentais, a defesa tácita ou explícita da instituição religiosa mesmo em detrimento dos princípios sobre os quais ela foi instituída.
Poderíamos passar um longo tempo discorrendo sobre as formas que este institucionalismo tem se alastrado não apenas na igreja cristã mas em todos os segmentos da sociedade, por isso vivemos em uma época de quase total descrédito das instituições por que elas se deixaram depravar por esta tendência mesquinha e covarde de encastelarem-se em suas próprias paredes arruinadas, de romperem com suas vocações fundacionais, voltando-se exclusivamente para dentro de si mesmas, implodindo seus valores primordiais.
Voltemos aos termos que foram apresentados à guisa de introdução. 'Kerigma' é a mensagem, a anunciação, a provocação de toda revolução, no contexto bíblico, esta revolução não é política, nem social, mas reflete nestas e em todas as demais relações humanas posto que é uma revolução intimista, partindo de dentro para fora, uma transformação de ordem espiritual que reflete em todos os aspectos da vida. 'Koinonia' é a comunhão, a expressão relacional da conversão provocada pelo Evangelho anunciado, o convívio dos afetos compartilhados nesta nova dimensão social. 'Ekklesia' é a assembleia, a igreja, a reunião das pessoas em torno da sua figura central: O Cristo. A Igreja é a expressão coletiva da transformação individual, análoga do seu par veterotestamentário: 'povo de Israel'.
Como o institucionalismo religioso (eclesiasticismo) imiscui-se nestes três aspectos da vida cristã?
O Kerigma é distorcido, desviado ou até esquecido para dar lugar ao encantamento do discurso institucional. Percebe-se na militância do modelo político conservador, na ênfase moral sobre os costumes e na apologia, em todas as suas formas discretas ou disfarçadas, do "negócio religioso". A Koinonia passa a ser coberta com o verniz social, as pessoas tornam-se membros ocasionais de uma espécie de clube de afins. O convívio é árido, exclusivo e, por vezes, hostil. A Ekklesia é encastelada, confundida com o lugar, o espaço e não o conjunto ou a coletividade. A bandeira denominacional vira a identidade do cristão, a agenda dos líderes estabelecidos afugenta e sufoca novas e potenciais lideranças.
Hoje, este é o maior desafio da Igreja: ser cristão apesar dela. Identificar e combater o institucionalismo, sem esmiuçar as relações, sem alimentar dissensões, sem buscar o engrandecimento patrimonial em seus aspectos materiais, mas resgatar seus valores precípuos, estimulando a participação integral das pessoas, elegendo-as como prioridade absoluta e, assim, talvez, consigamos vencer o eclesiasticismo.
quinta-feira, 29 de outubro de 2015
A Verdade contra o Relativismo
Em tempos nos quais o relativismo cultural permeia todas as relações humanas, em um mundo pós-moderno, falar em verdade soa ameaçadoramente dogmático e intolerante. O cristianismo, enquanto religião exclusivista e fundamentada na autoridade revelada na Bíblia, opera em acinte aos ideais relativistas que preconizam não haver "uma verdade" ou "A Verdade", mas todas as expressões de religiosidade são válidas e úteis para conduzir o indivíduo à sua paz interior, "todos os caminhos levam a Deus". A sedução deste discurso está configurada pela filosofia humanista que não economiza esforços na dissolução dos conflitos em nome do convívio pacífico e harmonioso entre as pessoas como paradigma para a evolução humana. Temos que admitir, é tentador engajar-se nesta luta pela paz. Mas, que tipo de paz é essa? Uma paz que em nome da diversidade institua-se o pluralismo religioso? Uma paz que negue totalmente a identidade que distingue os diversos sistemas de crenças sobre os quais erigimos nossos valores e, em última instância, nosso próprio caráter? Não! Esta paz fabricada pelo alijamento ideológico e pela planificação das relações humanas acaba por encobrir e anestesiar a expressão individual da fé que aglutina pessoas em torno de suas vivências espirituais.
Interessante notar que a lógica intrínseca do relativismo é disfuncional, contraditória em si mesmo quando afirma: "tudo é relativo!". Ora, se tal frase fosse verdadeira ela mesma deveria ser considerada relativa e, portanto, incompatível com o próprio enunciado tendo em vista que lança mão de uma fraseologia absoluta. Para negar o absolutismo argumenta-se de forma absoluta. Este paradoxo, para quem o defende desta forma, acaba acenando para uma realidade incontestável: de que há um absoluto. A própria linguagem dá testemunho disto. A razão humana não consegue negar, indefinidamente, que haja verdades, leis e fatos sobre os quais a argumentação oposta seja inválida ou mesmo que duas oposições antagônicas sejam impossíveis de serem compatibilizadas por serem opostas e, por isso, excludentes.
Interessante notar que a lógica intrínseca do relativismo é disfuncional, contraditória em si mesmo quando afirma: "tudo é relativo!". Ora, se tal frase fosse verdadeira ela mesma deveria ser considerada relativa e, portanto, incompatível com o próprio enunciado tendo em vista que lança mão de uma fraseologia absoluta. Para negar o absolutismo argumenta-se de forma absoluta. Este paradoxo, para quem o defende desta forma, acaba acenando para uma realidade incontestável: de que há um absoluto. A própria linguagem dá testemunho disto. A razão humana não consegue negar, indefinidamente, que haja verdades, leis e fatos sobre os quais a argumentação oposta seja inválida ou mesmo que duas oposições antagônicas sejam impossíveis de serem compatibilizadas por serem opostas e, por isso, excludentes.
Assinar:
Postagens (Atom)